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Carreira acadêmica e Ciência de Dados. Vale a pena?

Escrito por Erick Faria · 7 min. >

Carreira Acadêmica vale a pena para Cientista de Dados?

Muitas pessoas me perguntam se vale a pena seguir a carreira acadêmica para uma pessoa que deseja se tornar cientista de dados. Algumas pessoas acham que são lógicas completamente diferentes, mas eu acho que uma coisa não anula a outra. Nesse post eu vou abordar a minha opinião e a minha experiência como doutor e como cientista de dados. A minha intenção é compartilhar a minha experiência e o que eu penso a respeito do assunto, mas ressalto que não se trata de uma palavra final sobre o assunto. O meu intuito é apenas trazer novos elementos acerca dessa discussão.

Carreira acadêmica e ciência de dados.

Se você busca uma resposta curta e simples, a minha resposta é que sim, mas com ressalvas. Embora seja muito difícil fazer mestrado e doutorado e tomar muito tempo da nossa vida eu penso que o mestrado e doutorado ainda tem o seu valor para a pessoa que deseja se transformar em cientista. Um cientista é aquela pessoa que utilizando o método científico realiza pesquisas e responde perguntas. Um cientista de dados é um cientista, pois utiliza o método científico, geralmente matemática e ou estatístico. A palavra dados se dá porque esse método científico acontece por meio de dados.

Entretanto, o mercado é muito mais dinâmico do que as paredes da universidade. Um aluno de mestrado ou doutorado não é visto como trabalhador perante a sociedade brasileira. Um aluno de mestrado e doutorado que pega uma bolsa de estudo para dedicar aos estudos, terá que passar seis anos da sua vida com uma bolsa muito pequena. Repare bem no que eu estou falando é uma bolsa. Logo, você não tem nenhum direito trabalhista e não faz nenhum tipo de contribuição para a seguridade social.

Esse tempo que você vive de bolsa no longo prazo é muito danoso para a vida da pessoa. Se uma pessoa passar a graduação, mestrado ganhando uma bolsa de estudo, para essa pessoa aposentar depois ficará muito difícil.

Outro fator que eu gostaria de ressaltar é o valor da bolsa, que é completamente incompatível com a realidade do mercado.

Vale a pena seguir a carreira acadêmica? Fazer mestrado e doutorado, para seguir na carreira de ciência de dados. A resposta curta é que sim, vale a pena na minha opinião. Mas, claro, com algumas ressalvas.

O que se estuda em Ciência de Dados?

Caso você esteja interessado em saber o que se estuda no curso de ciência de dados você verá conteúdos que vão de matemática e estatística até noções de programação.

Os cursos de ciência de dados devem preparar a pessoa para desenvolver modelos usando a linguagem de programação.

Para ser um cientista de dado, a rigor não é necessário saber programar. Entretanto, dado a flexibilidade e as possibilidades que as linguagens de programação fornecem, atualmente é mandatório que a pessoa saiba programar.

Mesmo que existam algum software que é possível criar modelos sem a necessidade de programação, esse software por serem pagos são pouco utilizados nas maiorias das empresas.

O que é a Ciência de Dados?

Para responder o que é ciência de dados eu primeiramente devo ressaltar que se você perguntar essa mesma questão para 10 cientistas de dados provavelmente você escutará 10 respostas diferentes. Mesmo entre os cientistas de dados não há um consenso definido sobre o que é ciência de dados.

Eu gosto de definir a ciência de dados como: um conjunto de métodos estatísticos e matemáticos que são utilizados para encontrar respostas por meio dos dados.

Por isso a junção de duas palavras ciência e dados. A palavra ciência remete ao método científico que é utilizado para fazer análises estatísticas e matemáticas. A palavra dado refere-se a matéria-prima do método científico que será utilizado.

Eu particularmente sou cientista de dados há mais de 10 anos e quando eu comecei a minha carreira eu sequer sabia que eu era cientista de dados. A ciência de dados ela é muito nova e ela nasceu da necessidade de se ter um profissional que fosse especialista em métodos estatísticos e matemáticos e que soubesse trabalhar com dados.

Na medida em que nós produzimos maiores quantidades de dados a necessidade de um profissional especialista nesse assunto cresceu. Com isso a ciência de dados surge como uma das ciências mais importantes neste século.

O que é um Cientista de Dados?

Um cientista de dados é um profissional que deve ser capaz de utilizar o método científico para encontrar respostas por meio dos dados. Eu gosto de definir o cientista de dados como uma pessoa que responde perguntas utilizando os dados como matéria-prima.

Da mesma maneira que um carpinteiro utiliza a madeira para fazer uma mesa, um cientista de dados utiliza os dados para entregar uma resposta e resolver um tipo de problema.

Esse tipo de trabalho exige que os cientista de dado seja uma pessoa com conhecimentos amplos em matemática e estatística além de conhecimento acadêmico. O conhecimento acadêmico não é um requisito para ser cientista de dados, porém é muito bem-vindo tendo em vista que o método científico é fundamental para atuar nessa profissão.

Você não precisa ser necessariamente formado em uma área da computação para ser cientista de dados. Por ser uma área nova existem poucos cursos voltados para o tema. Muitas das pessoas que trabalham como cientistas de dados atualmente são profissionais formados em outras áreas e que aprenderam a programação e já tinham previamente algum contato com matemática e estatística.

O que fazer para seguir carreira acadêmica?

Para seguir a carreira acadêmica o primeiro passo é que você goste de fazer pesquisa científica. Uma pesquisa científica é em linhas gerais um trabalho em que você irá responder um problema e irá utilizar o método científico para chegar em tal resposta.

O primeiro passo para seguir a carreira acadêmica é fazer uma graduação. Durante a graduação é aconselhável que o estudante faça algum tipo de trabalho de iniciação científica para ter um primeiro contato com a pesquisa.

Caso estudante goste do primeiro contato com a pesquisa, é aconselhável que ele ou ela reflita sobre a possibilidade de fazer um mestrado. No mestrado, que tem duração de dois anos, o aluno ou aluna irá aprofundar em um determinado tema e deve realizar uma pesquisa na qual irá defender um seminário de dissertação no final do período de mestrado.

Com o título de mestre a pessoa já está habilitada a lecionar no curso superior. Entretanto, caso a pessoa queira chegar ao mais alto grau acadêmico ela deve fazer um doutorado.

O doutorado no Brasil tem duração de 4 anos e o aluno deve ser capaz de conduzir uma pesquisa com autonomia e provar uma tese relevante em uma determinada área de pesquisa.

Ao terminar o doutorado a pessoa está habilitada para conduzir pesquisas de forma autônoma. No Brasil existem poucas as possibilidades para seguir uma carreira de pesquisador. Geralmente as vagas para quem quer seguir a carreira acadêmica estão nas universidades e a pessoa deve dividir o seu tempo entre professor e pesquisador.

O que é ser um acadêmico?

Ser um acadêmico é ser uma pessoa que dedica a sua vida as pesquisas. Dizer que alguém é uma acadêmico, pode ter várias conotações. Pode haver uma conotação pejorativa, ao insinuar que a pessoa é muito perfeccionista e muito rebuscada para problemas simples. Pode também se referir a pessoa que é literalmente uma pessoa que trabalha na academia.

Uma pessoa acadêmica é um profissional que está ligado a uma universidade e é uma pessoa que geralmente é professor. O acadêmico entre várias coisas com duas pesquisas e leciona nos cursos de graduação e pós-graduação.

O que é ter uma vida acadêmica?

Ter uma vida acadêmica é a mesma coisa que ter passado a sua vida toda estudando e conduzindo pesquisas. Algumas pessoas optam por continuar na universidade estudando e conduzindo pesquisas para sobreviver. Tudo se inicia Na graduação e tem continuidade nos anos posteriores nos cursos de pós-graduação.

No Brasil geralmente uma pessoa gasta 11 anos para ter toda a formação acadêmica da graduação até o doutorado. Uma pessoa que opta por fazer todo o processo seguido dedica uma parte relevante da sua vida adulta aos estudos e a pesquisa.

Essa pessoa recebe uma bolsa durante esse período que varia entre R$ 1500 até R$ 2.200. Esses valores referem-se as bolsas de mestrado e doutorado respectivamente. Esses valores são os valores atuais no momento em que escreva esse post.

Vale a pena seguir a carreira academia para quem quer Ciência de Dados?

Agora que nós vimos um pouco sobre ambos os lados a resposta para essa pergunta é: depende.

Você viu que para ser cientista de dados você não precisa ser uma pessoa acadêmica. Apesar de que a experiência em pesquisas vai te ajudar a ter autonomia e a resolver os problemas que são em formato de perguntas e que você deve utilizar o método científico para responder.

É inquestionável que um doutor tem uma preparação muito maior em relação a outra pessoa que não teve a experiência acadêmica para responder perguntas científicas com autonomia. O que define o doutor é sua capacidade e sua autonomia em conduzir pesquisas para resolver problemas, sempre utilizando o método científico.

Entretanto essa preparação do doutor é muito voltada para o mundo acadêmico, que tende a ser mais lento e moroso do que o mercado privado. Um doutor é excelente para conduzir uma pesquisa de alguns anos, mas essa pessoa não tem experiência nenhuma em gestão e de como liderar uma equipe.

O doutorado no Brasil não prepara a pessoa adequadamente para uma vida fora da academia. É muito comum que o doutor saia da sua formação muito qualificado, mas devido à ausência de experiência profissional tem muita dificuldade de adaptação.

É aqui que entra o meu ponto de vista e a minha resposta para a pergunta proposta. Eu acho que vale a pena você seguir no doutorado desde que você opte por não receber a bolsa e não seguir no regime de dedicação exclusiva.

ao seguir por esse caminho você terá a possibilidade de começar a trabalhar e adquirir experiência ao mesmo tempo em que você irá se qualificar com o doutorado. Você só tem a ganhar nesse regime, pois você já estará trabalhando recebendo um salário e ao mesmo tempo estará se qualificando.

O regime de dedicação exclusiva no doutorado e no mestrado é muito perverso. Você não pode receber nenhum tipo de renda e geralmente você tem que fazer horas na universidade. Existem casos em que o aluno de mestrado e doutorado que está recebendo bolsa é quase um secretário privado do professor orientador. É um regime de trabalho muito precário.

Além da precariedade que é o trabalho, um bolsista no Brasil não tem direito a nada. Você não contribui para a seguridade social e você não tem direito a nenhum tipo de afastamento férias ou décimo terceiro. Em outras palavras você terá que abrir mão de 11 anos de salário caso você opte por seguir toda a carreira acadêmica nesse regime de trabalho.

Assim, eu aconselho que você reflita bem sobre qual a melhor estratégia que você deve seguir. Eu entendo que algumas pessoas têm dificuldade em seguir as duas coisas concomitantemente, mas durante a minha trajetória eu conheci várias pessoas que se deram muito bem e fazendo isso que eu acabei de sugerir.

Agora cabe você a pensar e decidir o que faz mais sentido para você. Independentemente daquilo que você decidir o mais importante é que você esteja feliz e não deixe que nada afete a sua saúde mental. Afinal o mais importante de tudo é a sua saúde.

Nesse vídeo coloquei minha opinião baseado na minha carreira e expectativas.

Escrito por Erick Faria
Engenheiro de Dados com Ph.D. em Geografia e experiência em análise espacial e geoprocessamento. Expertise em processamento de grandes volumes de dados geoespaciais, imagens de satélite e dados de mercado, utilizando ferramentas como Spark, Databricks e Google Earth Engine. Experiência em projetos de mercado de carbono, modelos preditivos para investimentos agrícolas e liderança de projetos de dados em saúde pública. Habilidades em Python, R, SQL e diversas ferramentas de engenharia de dados. Profile